Pereira da Viola

 

Pereira da Viola: um artista do povo

Nascido em São Julião, no Vale do Mucuri - MG, a influência musical do violeiro Pereira da Viola

começou desde cedo. A tradição de folia de reis estava dentro de sua casa com o pai, João Preto,

que tocava sanfona e sua mãe Augusta, que até hoje cultiva a arte de cantar cirandas e folguedos.

Em uma família de 13 irmãos que trabalhavam na roça, a mãe sempre incentivou a música no

dia-a-dia da família, ?não imagino a minha mãe sem estar todo o tempo cantarolando cantigas

de roda? conta. Até hoje sua família realiza a folia todos os finais de ano na cidade.
Com 11 anos de idade, Pereira saiu de casa para estudar e foi morar em Nova Lima ? ES, na década

de 70. Porém, desde os 8 anos ele já falava em ser artista. Na música, sempre foi autodidata e se

orgulha muito disso, mas acha que o estudo dela (a música) deveria ser uma regra nas escolas

brasileiras, pois, segundo ele, a educação popular é uma forma de conscientização. ?A nossa

sociedade perdeu muito quando foi retirada a música do currículo escolar? afirma.
Ao sair de casa, Pereira ganhou um violão de presente de seu irmão e passou a tocá-lo por

experimentação. A viola também foi presente de um amigo, Josiel dos Santos, mas Pereira teve

que decorar a sua afinação. Ainda no Espírito Santo (Pinheiros), por volta dos anos de 78/79, o

violeiro se insere na luta camponesa fundando o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, uma espécie

de precursor do MST ? Movimento Sem Terra - que conhecemos hoje.
Em sua transferência para Minas Gerais em 1982, Pereira funda com amigos, em Serra dos Aimorés, o

Movimento Cultural do Vale do Mucuri, sendo seu vice-presidente. Nesta época ele já participava de

shows de calouros e tocava em escolas e missas.
Para Pereira da Viola, ?não tem sentido separar a conscientização cultural da conscientização política?. Com

tal separação não se chega a lugar algum, afirma. O músico se coloca como resultado dessa conscientização,

pois cresceu vendo a mãe falar em Reforma Agrária, organização do povo e das mulheres em especial. ?Não é

nenhuma surpresa a minha formação política na luta camponesa? diz.
Entretanto, os movimentos culturais daquela região foram se perdendo com o tempo. As folias de reis se

acabaram com a realidade nacional de esvaziamento do campo, diz Pereira. ?Até mesmo o Festivale, que ainda

resiste como resquício do Movimento Cultural do Vale do Jequitinhonha, foi alvo do oportunismo político de partidos

como o PT ? Partido dos Trabalhadores ? que se inseriu na região através do festival? diz. Segundo ele, ?isso fez

com que os movimentos perdessem sua ideologia inicial?.
Pereira da Viola explica que existe um motivo para que a extinção dos movimentos culturais em âmbito nacional

aconteça. Isso se dá pelo esvaziamento dos valores culturais do Brasil, principalmente nas décadas de 70 e 80,

perseguidos pelos norte-americanos. ?Houve uma ruptura com as músicas de países latino-americanos para deixar

entrar em nosso país outras influências. A cultura popular foi massacrada e as pessoas passaram a ter vergonha

de falar de sua raiz e origem? afirma.
Somado a isso, ainda há o fator agravante da visão preconceituosa do caipira como estereótipo que deteriora a

imagem do homem simples do campo. Para o músico, ?quando se enfraquece uma cultura, ridicularizando-a, é uma

forma de enfraquecer seu povo?.
Na visão de Pereira, isso começa a mudar a partir do final da década de 90, mas muito lentamente, existindo ainda

hoje uma elite nesse sentido fazendo com que a cultura popular não atinge toda a população. Segundo o músico,

a arte popular, as canções que falam do povo, deveriam ser mais divulgadas. Elas têm relação direta com a auto-estima

do povo e a resistência?. Para ele, o fazer cultural não é só festa e entretenimento.
Citando o seu trabalho com exemplo, Pereira afirma que há dois principais problemas: imprensa e produção. Artistas

como ele não têm grande espaço na mídia e o ?tocar na tv?, fazendo parte desse contexto, é determinante para

chegar ao grande público. ?A aberração sexual da mídia emburrece a população, assim, o povo é refém dos meios

de comunicação? explica.
Além disso, Pereira acrescenta que a eterna submissão econômica do Brasil sempre se refletiu na arte, pois para existir um

artista, outro deve ser eliminado?.
Presidente da Associação Nacional dos Violeiros, entidade que luta por melhores condições de trabalho para categoria,

Pereira da Viola é um sonhador de pés no chão que há alguns anos trocou a enxada pela viola.

 

Retirado do site CMI Brasil

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/04/312590.shtml
 

 

 

Assista abaixo vídeos de Pereira da Viola

 

 

 

 

 

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